Do Tento à Tentação
Do Tento à Tentação visita o interessante e variado repertório registado em fontes ibéricas para órgão − Porto, Braga, Coimbra e Madrid − destacando tanto as obras de escrita contrapontística (tento) como as danças peninsulares (pavanas, xácaras, folias ou villanos, entre outras), frequentemente improvisadas, explorando a curiosa confluência dos dois géneros musicais em contextos sacros. Elaborações instrumentais que alternam escrita polifónica e homofónica, os tentos podiam ser usados em diferentes momentos litúrgicos, seguindo os modos eclesiásticos do cantochão. Por outro lado, as variadas danças que circulavam pela Europa nos séculos XVII e XVIII, eram formas privilegiadas pela composição musical, pela regularidade da sua estrutura e pelas inesgotáveis possibilidades de variação, constituindo ainda um repertório omnipresente na paisagem sonora da época, conhecido por todos, e presente nos salões, nas ruas e nas igrejas. Pela sua riqueza tímbrica e a sua frequente utilização, o órgão era um instrumento igualmente muito familiar, não só no contexto litúrgico ou religioso, mas também em ambientes e funções seculares.
Neste concerto dançado desenrola-se uma dramaturgia baseada na interação de cinco personagens: o Mestre de Capela / Organista, o Cantor, e três Damas. O discurso dramático foi construído a partir de fontes musicais e coreicas em diálogo com testemunhos literários, tanto de origem eclesiástica – como os excertos das Definições e apontamentos do Capitulo geeral que se celebrou em este moesteiro de Sancta Cruz [de Coimbra] em o anno de 1575. manda que guarde en tudos nossos, moesteiros – quanto de natureza secular – como uma notícia na Gazeta de Madrid (1723), ou a descrição de um viajante estrangeiro, recolhida no diário de William Beckford em Portugal e Espanha (1787-88). Todos evidenciam o caráter ambivalente do repertório para órgão ao longo deste largo período temporal, as tensões associadas à sua transversalidade, e o papel que a dança tinha como prática essencial à sociabilidade, mas também como modelo musical. As diferentes danças, em voga na época em toda a Europa, mas com particular relevo para as de tradição ibérica ou com presença assinalada na Península, constituem o repertório registado nas fontes utilizadas, podendo-se distinguir versões coreográficas originais, bem como ulteriores elaborações instrumentais. O repertório coreográfico original (descrição dos passos, figuras e gestos a serem executados pelos bailarinos), é igualmente retirado de fontes coevas estrangeiras, espanholas e francesas, como o Libro de danzar de don Baltasar de Rojas Pantoja e Aimable Vainqueur, dance nouvelle dancée devant le Roy à Marly de la composition de Monsieur Pecour et mise au jour par Mr. Feuillet (1701), bem como portuguesas, nomeadamente Choregraphie o Arte para saber danzar todas suertes de danzas por choregraphie… (Felix Kinski, 1751). Esta é uma viagem por um repertório na charneira entre a cultura sacra e a profana, entre o coro alto e o salão, numa permeabilidade e conciliação que caracterizava o complexo perfil cultural ibérico, ainda com reminiscências do Siglo de Oro (século XVII), mas anunciando já a sociedade mais galante e cosmopolita do século XVIII.
No repertório obras de André Campra, Arcangelo Corelli, Bartolomeu de Olagué, Bernardo Pasquini, Gaspar Sanz, José António Carlos de Seixas, José Torrelhas, Manuel Rodrigues Coelho, Martín y Coll, entre outros compositores anónimos.
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Co-produção
Portingaloise & La Floreta
Direção cénica e dança
Catarina Costa e Silva
Direção coreográfica e dança
Diana Campóo
Direção musical e órgão
Fernando Miguel Jalôto
Canto e dança
Thiago Vaz
DIGRESSÃO INTERNACIONAL – BRASIL*
29/07/2025
19:00
XXXVI Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
Teatro Paschoal Carlos Magno, Juiz de Fora – MG
02/08/2025
20:00
Capela Santa Maria Espaço Cultural, Curitiba – PR
06/08/2025
17:00
Centro Maria Antônia da USP, São Paulo – SP
*participação da bailarina Clara Couto
Promotor
Portingaloise – Associação Cultural e Artística
Catarina Costa e Silva – direção artística e pedagógica
Thiago Vaz – direção executiva
Mayra Paolinelli – assistência de produção
Apoio
República Portuguesa – Cultura, Juventude e Desporto / Direção-Geral das Artes
Camões I.P – Centro Cultural Português em Brasília
Parceiros internacionalização
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – Pró-Reitoria de Cultura
ICAC – Instituto Curitiba de Arte e Cultura
Universidade de São Paulo – Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária;
Escola de Comunicações e Artes; Centro Universitário Maria Antonia
KALE Companhia de Dança
APRESENTAÇÕES
05/07/2025
Festival AnAbarca | Festival de Música y Patrimonio EnClaves
Monasterio de Casbas de Huesca, Aragão, Espanha
27/10/2024
13º Festival Internacional de Órgão da Madeira
Igreja do Convento de Santa Clara do Funchal, Madeira
22/09/2023
IX Portingaloise – Festival Internacional de Danças e Músicas Antigas
Armazém22, Vila Nova de Gaia
23/10/2022
8º FIO – Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso
Teatro Narciso Ferreira, Riba de Ave
*participação do bailarino Gláucio Romero
TEASER