Investigação

Esperando contribuir para um estudo cada vez mais profundo e científico na área da coreologia histórica, nomeadamente em Portugal, a Portingaloise promove desde 2016 Encontros Académicos de investigadores na área da dança antiga ou outras relacionadas (estética, etnografia, história da arte, musicologia, teatro). Neste sentido, concordamos que um trabalho conjunto em permanente partilha e diálogo poderá, não só salvar repertório do esquecimento, como também permitir um avanço significativo na investigação portuguesa no meio internacional.

Tal como a musicologia histórica atualmente adota por exemplo instrumentos de época ou diapasões específicos, a coreologia histórica apenas “ganha corpo” se desenvolver a necessária reflexão sobre o vocabulário físico específico contido em diferentes fontes. Descrições literárias ou registos pictóricos informam e sugerem, mas não são suficientes para basear reconstituições.

Reclamamos a reflexão dos conteúdos antigos no espaço e tempo presentes, pesquisando profundamente a reação do corpo contemporâneo às definições de movimento e gesto de outros contextos, recriando, revivendo a história e apreciando o património.

Publicações

Estudos Coreológicos 2016-2020. Contextos da Dança e Música Antigas.

Coord. Catarina Costa e Silva
Série Mundos e Fundos. Mundos Metodológico e Interpretativo dos Fundos Musicais. (vol. II).

“A presente publicação é resultado do contributo de investigadores e autores participantes no Encontro Académico do Portingaloise – Festival Internacional de Danças e Músicas Antigas, constituindo a sua componente académica e investigativa…”

Votado ao estudo específico da dança antiga e interseções com outras artes do espetáculo desde a Idade Média ao século XIX, o Festival privilegia a abordagem do património coreográfico que, chegando aos dias de hoje por via escrita ou por via oral, exige um olhar atento e crítico para que se cumpram os seus propósitos mais intrínsecos e originais, promovendo o estudo filológico juntamente com a prática historicamente informada. Para este efeito, logo na sua 2ª edição (2016), o Festival promoveu um encontro entre investigadores/autores e artistas/criadores que abordassem o repertório coreográfico, cénico e musical situado cronologicamente entre os séculos XV e XVIII. A responsabilidade da recriação de repertório da época moderna, ou de uma outra qualquer época histórica, obriga a uma aliança entre trabalho prático e teórico que, no caso da dança histórica, passa tanto pelo estúdio como pela biblioteca ou pelo arquivo. Cedo compreendemos a importância de desenvolver um olhar crítico sobre as fontes primárias e secundárias, no sentido de desenvolver metodologias de investigação capazes de desenvolver resultados válidos, que contribuam para a ampliação da produção científica na área. Assim, o Encontro Académico confirmou-se como espaço de partilha de investigação científica, partilha de experiências académicas ou performativas, diálogo entre diferentes agentes que ampliaram, indiscutivelmente, a sua ação partilhando tanto conteúdos como metodologias. Na edição dos desafiantes anos pandémicos de 2020 e 2021, o Encontro Académico ganhou uma outra dimensão mediática, paradoxalmente originada pelo constrangimento do distanciamento social: composto, como sempre, pela apresentação de trabalhos científicos e artísticos, mesas redondas ou painel de questões, o Encontro foi então difundido pela internet, permitindo uma ampliação de público e viabilizando um diálogo internacional muito mais alargado em prol do desenvolvimento científico cada vez mais expressivo na área da coreologia histórica. Desde a primeira edição em 2015, o Festival Portingaloise contou com o apoio da Kale Companhia de Dança sendo albergado no seu inspirador espaço em Vila Nova de Gaia, o Armazém22. A integração deste festival e de todas as suas rubricas, incluindo o Encontro Académico, na programação da Kale desde 2018, conferiu-lhe um enquadramento de atividade singular no apoio plurianual da Direção Geral das Artes (DGArtes), apoio esse que contribuiu enormemente para a maturação da iniciativa. A acreditação científica foi concedida ao Encontro Académico, desde a sua primeira edição em 2016, pela chancela do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, constituindo atividade desenvolvida no âmbito do projeto UID/ELT/00196/2013 – Grupo de Investigação “Semântica e Pragmática da Arte”.

Vídeos

Entrevista de Catarina Costa e Silva a Carlos Blanco

Canal “Danza Histórica en la Europa cortesana”.


Uma conversa sobre o seu percurso de formação e atuação, partilha da sua visão artística sobre as danças antigas e também sobre o trabalho desenvolvido pela Portingaloise, associação na qual é presidente e diretora artística.

Cravistas em Quarentena
(Episódio 45)

Beatriz Pavan recebe Catarina Costa e Silva para falar sobre Le Caractère – Aprender música dançando.

DVD La Danse Baroque

Campos, Alexandra Canaveira de
(colab. artística).
Autoria: Béatrice Massin.
Realização: Marie-Hélène Rebois.
Produção: Compagnie Fêtes Galantes, Daphnie Productions

Portingaloise, marche!

Portingaloise, marche! é uma nova rubrica itinerante da Portingaloise – Associação Cultural e Artística, que visa divulgar a Dança Antiga, de forma pontual e intensiva, por diferentes regiões do país, visitando diversos contextos culturais, visando distintos públicos, desde jovens a seniores, de amadores a profissionais. Documentos, locais e testemunhos relacionados com a prática da Dança Antiga são assim mote para uma fruição patrimonial mais informada.

Direção artístico-pedagógica
Catarina Costa e Silva

Direção executiva
Thiago Vaz

Consultoria científica
Cristina Fernandes

Com a chancela do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra e do Projeto Mundos e Fundos; Fundação para a Ciência e Tecnologia

1ª Edição
Contradanças no Methodo de Pantezze, Lisboa 1761

29 de abril (Dia Internacional da Dança)
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal

 

Workshop de Contradanças do século XVIII (GRATUITO com Inscrição obrigatória)
por Catarina Costa e Silva (ESMAE; CECH_UC). 10h00-13h00

Encontro Académico
(GRATUITO com Inscrição obrigatória). 14h30-17h30

●   José Camões (CET_FLUL) – As habilidades da dança nos teatros de Lisboa na segunda metade do século XVIII.
●   Cristina Fernandes (INET-md_NOVA FCSH) – «Minuets to begin at Seven o’Clock precisely, Two Country-Dances only before Tea»: Bailes e assembleias no séc. XVIII europeu.
●   Alexandra Campos (CHAM_ NOVA FCSH) – A “fala em que se dança”. Conhecer a obra de Julio Severin Pantezze – um manual de dança português do século XVIII.


Com a chancela do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.

Atividades organizadas em torno da obra da BNP Methodo ou Explicaçam para aprender com perfeição a dançar as Contradanças, Lisboa, 1761, de Julio Severin Pantezze promovendo o contacto direto com a fonte, a prática efetiva de repertório de Contradanças do século XVIII e ainda, a partilha de trabalhos académicos sobre o contexto social, artístico e recreativo da época.

Em outras publicações

Livro Contradanças e Quadrilhas Durienses: Um projeto de recolha e divulgação do NEFUP

Helena Queirós, Luís Monteiro,
Daniela Leite Castro.
Núcleo de Etnografia e Folclore da U.Porto (NEFUP), U.Porto Press, 2021.


Contradanças e Quadrilhas Durienses: Um projeto de recolha e divulgação do NEFUP é o resultado do trabalho desenvolvido, durante dois anos, no sentido de dar a conhecer e salvaguardar o riquíssimo património destas danças que ainda sobrevive na região.


Prefácio de Catarina Costa e Silva. Perspetiva Histórica por Daniela Leite Castro.

Revista Choreologica

EADH – European Association for Dance History, Vol. 11, n. 1, 2021.
Artigos de Susan Hamlin, Madeleine Inglehearn, Ricardo Barros, Catarina Costa e Silva e Tiziana Leucci.


Uma edição construída com contributos da conferência internacional anual da EADH que aconteceu no Porto em novembro de 2019, pela primeira vez em Portugal.

Publicações (por autor)

CAMPOS, Alexandra Canaveira de, Show and/or tell? What is the role of historical dance in period cinema? And what memory of the history of dance are we left with?AVANCA | CINEMA 2019, ccord. A. Costa Valente, Avanca: Edições Cine-Clube de Avanca, 2019, pp. 217-226. ISSN: 2184-0520.

To the often-studied relationship between dance and cinema, kindred arts of the moving body-moving image, I propose to add an original analysis of the relationship between the sub-genres of historical dance (in particular the social and theatrical dances of the seventeenth and eighteenth centuries) and period cinema. To that end, it is not only important to question the extent to which dance is merely illustrative, or serves as a narrative instrument in this type of films, but also how period cinema contributes to the construction of a historical memory of dance.
There are several contexts that justify the introduction of a staged dance on film and they depend on a number of choices on the part of the artistic team. In period cinema these choices are particularly delicate, especially when the “world of the play” is relatively unconcerned with historical accuracy. Based on a selection of films including Valmont (1989), by Milos Forman, Jefferson in Paris (1995), by James Ivory, Le Roi danse (1999), by Gérard Corbiau, Marie Antoinette (2006), by Sofia Coppola, and Alan Rickman’s A Little Chaos (2014), I analyse the criteria for the introduction of dance scenes, and reflect not only on their aesthetic and metaphorical effects, but also on their power of transmission, as well as of (de)construction, of a stereotype of historical dance.

CAMPOS, Alexandra Canaveira de, Dançar a partir dos tratados – as danças de sociedade e a função do baile, Dançar para a República, coord. Daniel Tércio, Editorial Caminho, Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2010, pp. 29-65. ISBN: 978-972-21-2139-2.

CAMPOS, Alexandra Canaveira de, Tratados de dança em Portugal no século XVIII. O lugar da dança na sociedade da época moderna (dissertação de mestrado), NOVA FCSH, 2009.

O presente trabalho nasce da ambição de desenvolver um estudo de fundo, original, sobre os três únicos tratados de dança, escritos em português e impressos em Portugal, conhecidos para a época moderna – Arte de dançar à francesa, traduzido por José Tomás Cabreira (Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1760); Methodo, ou explicação para aprender com perfeição a dançar as contradanças, de Julio Severin Pantezze (Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1761); e Tratado dos principaes fundamentos da dança, de Natal Jacome Bonem (Coimbra: Officina dos Irmãos Ginhoens, 1767). A escolha deste conjunto de fontes foi incentivada por uma dedicação pessoal à prática da dança, particularmente das danças antigas. Este conhecimento e prática performativos serviram como importante mais-valia não só para a análise das descrições técnicas transmitidas pelos tratados, como para uma aproximação ao movimento e disposição corporal das danças que nos propomos estudar, O primeiro contacto com os três tratados de dança ocorreu ainda durante a licenciatura em História, num trabalho realizado para a disciplina de «História de Portugal Moderno». Durante a investigação, tomou-se evidente o contributo que o estudo da dança podia oferecer à história da cultura e das mentalidades modernas, mas foi também possível comprovar a ausência de um conhecimento sólido sobre as três fontes mencionadas, as únicas dedicadas ao ensino e à prática da dança no Portugal de Setecentos. A actual dissertação pretende contribuir para a reflexão sobre o papel da dança na sociedade dos séculos XVII e XVIII através do estudo de uma das suas primeiras formas de registo material- a tratadística da dança.

COSTA E SILVA, Catarina, The Dances in Henry Purcell’s Dido and Aeneas, Master of Arts – Music-Theatre Studies Dissertation, University of Sheffield, 2004

COSTA E SILVA, Catarina, Paseo – entre a medida e a dileção, Jornadas Mundos e Fundos, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2022.

As danças ibéricas dos séculos XVII e XVIII constituem formas muito adequadas à composição musical, a par das danças da famosa suite francesa. Apresentam uma variedade de designações (folia, xácara, villano, capona, rojão,…) e povoam os mais diferentes registos ou coletâneas instrumentais para violino, tecla ou guitarra. No caso deste último instrumento, o registo é quase sempre em tablatura, como no caso do códice MM97 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra para guitarra barroca ou do Libro de diferentes cifras de guitara escojidas de los mejores autores (M/811 da Biblioteca Nacional de España) de 1705. A escrita em tablatura, se por um lado, aproxima o registo escrito à execução prática pelo plasmar do movimento dos dedos, por outro, é enigmático relativamente à resolução rítmica, convidando o intérprete a passear por diferentes possibilidades de duração de cada gesto ou posição. Este convite é igualmente feito a quem lê os registos coreográficos da dança barroca espanhola: os passos são registados em sequência literária, em texto corrido, não definindo a duração precisa de cada apoio ou de cada gesto.
Adivinha-se assim que a duração e, consequentemente, a dinâmica de cada movimento – seja tocado ou dançado – era algo tácito, não sendo necessário registar. Era algo partilhado pela proximidade de intérpretes de música e de dança que encontravam conjuntamente os padrões, as sequências, as cadências de um texto comum. Nesta pequena sessão sugerimos um paseo por este repertório, propondo relações rítmicas e compreendendo impulsos e cadências caraterísticas, … medindo diletantemente.

COSTA E SILVA, Catarina, Balle de las Danças – when dances dispute for primacy, Annual Conference – European Association for Dance History, European Association for Dance History, Londres, 2022.

The Balle de las Danças is a piece of ‘teatro breve’, an Iberian genre of musical theatre. This 18th-century piece is based on the conflict between dances, like saltarelo, villano or sarambeque that argue with each other for primacy, showing off their attributes and pointing out the defects of the others. Each dance presents its attribute like the ‘first’, the ‘earliest’, the ‘funniest’, the ‘bravest’, presenting ancient or coeval conflicts between countries and cultures at that time in the western world.
This little music – theatre piece belongs to the manuscript 471 from Arquivo Distrital de Braga (city in the north of Portugal), constituted by more than 50 balles (or bayles) built on the same formula: the dispute between opposed characters in even number – couples in discord – through a sequence of solo parts interweaved by choral moments where the narrator conducts the quarrel. At the end, an odd character resolves the dispute and brings peace in a happy and dancing finale. Our recent recreation and modern premiere of this balle, based on these metaphorical representations of conflict and rivalry, highlights the importance of dance in this repertoire.

COSTA E SILVA, Catarina, Bayamo, bulimo cus pé… dance elements in 17th century polyphonic repertory of Santa Cruz de Coimbra, Annual Conference – European Association for Dance History, European Association for Dance History, Porto, 2019.

COSTA E SILVA, Catarina, Registos e interpretações de repertório francês em documentos ibéricos – comparação de alguns exemplos, Seminário Internacional de Música nas Cortes Ibéricas, Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2019.

No século XVIII os documentos de registo do repertório coreográfico cortesão circulavam amplamente por cortes e assembleias. Tendo sido definida e divulgada a notação Beauchamps-Feuillet a partir da publicação em 1700 da obra Chorégraphie, a dança ganha dimensão material sendo difundida por toda a Europa através de livros de danças (recueils) ou de coreografias avulsas muitas vezes partilhadas por epístola. As cortes ibéricas não são exceção albergando mestres de dança, promovendo espetáculos e influenciando uma alta sociedade que reclama também para si a prática e o conhecimento de tal arte. Felix Kinski em 1751 é um mestre de dança e empresário do espetáculo no Porto, vindo de Villanueva de Alcardete, La Mancha. O seu manuscrito de danças, composto por danças do repertório francês, revela indícios desta ampla circulação e interinfluência das práticas e dos registos de dança cortesã no século XVIII. Nesta comunicação propomos analisar especificamente determinadas danças presentes neste manuscrito e em outros registos ibéricos.

COSTA E SILVA, Catarina, Todas suertes de danzas… o manuscrito de Felix Kinski no Porto em 1751, I Colóquio Internacional de Queluz – Diplomacia e Aristocracia como promotores da Música e do Teatro na Europa do Antigo Regime, Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal, Lisboa, 2016.
COSTA E SILVA, Catarina, Todas suertes de danzas…estudo e actualização de fonte coreográfica no Porto de 1751, Jornadas Mundos e Fundos, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2016.

O manuscrito BPMP_1394 (P-Pm Ms 1394), Libro de Diferentes Danzas que se estilan Bailar en Saraos Políticos y en Palacios de Distintas Cortes, para el senor Dn Manuel de Figueiroa, é um manual de danças em notação Feuillet, com as melodias correspondentes, seguindo o modelo francês de partitura coreográfica. Este documento de Felix Kinski – Mestre de Danza nesta ciudad de Oportu, em 1751 – podemos encontrar 12 danças do contexto cortesão gaulês como sejam a 3ª dança La Guastala (do prólogo da Tragédie Telemaque de A. Campra (1704) ou a 6ª dança La Bretana (da Pastorale Heroïque Issé de A. C. Destouches (1708). Peças ainda acompanhadas pela famosa loure L’Aimable Vainqueur (de “desenvolvimento coreográfico virtuoso”, Little, 1995) do coreógrafo Louis Pécour. Este extraordinário documento coreográfico, aparentemente isolado, dedicado a um membro da aristocracia, permite alimentar um espaço de discussão sobre o mecenato artístico e hábitos culturais do Porto setecentista. Para além disso, na presente comunicação pretendemos evidenciar a “atualização” que Kinski faz do reportório francês ao registar as danças com algumas diferenças das suas originais. Erro? Liberdade criativa? Transgressão? Adaptação? Nesta comunicação não pretendemos responder mas apenas enunciar, e dar a conhecer uma recente produção cénica “Kinski” (Maio de 2016) que igualmente propõe atuais leituras e questionamentos.

COSTA E SILVA, Catarina, No tempo em que Gil Vicente dançava… Colóquio Gil Vicente_Cinco séculos de escrita e de palco, Escola Superior Artística do Porto (2017)

​​Em 1970 José Sasportes – autor referência para a História da Dança em Portugal – questionava a negação de um humanismo português pleno de realizações também coreográficas, imputando responsabilidade a alguns historiadores que justificavam esta inexistência pela falta de documentos, talvez – na sua opinião – inexistentes porque não procurados ainda por ninguém. Este autor, consciente da versatilidade de um criador de espetáculo na Europa renascentista – muitas vezes conjugando na sua pessoa a criação literária, a definição plástica (de figurinos, de elementos cénicos) e ainda aquilo a que hoje chamaríamos a direção de atores, a direção cénica e/ou a direção coreográfica, intitula um dos capítulos da sua História da Dança em Portugal, Gil Vicente, mestre coreógrafo, apresentando inequivocamente a sua tese desde o início. Partindo apenas e para já do texto literário observamos aqui a presença da dança. Em ano de celebração dos 500 anos da publicação do Auto da Barca do Inferno (1517), aproveitamos para especular se o cantarolar do Frade ao entrar em cena é apenas um gesto dramático insignificante ou se, por outro lado, contém em si conteúdos de dança.

COSTA E SILVA, Catarina, Elementos coreológicos em manuscritos musicais do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra: justificação da recriação coreográfica de excertos musicais concretos, Jornadas Mundos e Fundos, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2015.

A História da Dança em Portugal constitui um campo de investigação pouco trabalhado, nomeadamente quando se refere à Época Moderna. No entanto, os testemunhos de manifestações coreológicas são comuns e transversais na sociedade moderna portuguesa, abrangendo tanto a cultura popular como a cultura erudita, habitando tanto o espaço profano como o sagrado. Neste sentido, o repertório que pretendemos estudar – os Vilancicos do séc.XVII do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra – constitui um corpus privilegiado de questionamento e de impulso à investigação na área do espectáculo de carácter necessariamente transversal, por conjugar dimensões sociais e culturais distintas, assim como por compreender funções diversas, sendo a mais imediata, pelo seu contexto, a devocional (não descurando, no entanto, outras funções como a ecuménica, a educacional/evangelizadora, a lúdica, a apologética,…).

Pretende-se filtrar os indícios coreológicos deste repertório manuscrito e compreender a sua amplitude e a sua implicação prática, distinguindo e registando, por exemplo, indicações directas ou indirectas de dança. Para além disso, e na ausência de documentos coreicos portugueses da época, é obrigatório contextualizar a prática de dança em contextos geográficos mais informados como sejam os contextos francês, italiano ou espanhol por exemplo, através de tratadística. Sendo o ponto de partida a análise do repertório, pretende-se a jusante e, objectivamente, concretizá-lo em termos práticos, contribuindo para realizações artísticas o mais historicamente informadas possível.

COSTA E SILVA, Catarina, Espagnol, je te supplie – presença do vocabulário espanhol no ballet de cour francês da 1a metade do séc. XVII, II Congresso Ibero-Americano de Jovens Musicólogos – Musicologia Criativa, Tagus Atlanticus Associação Cultural / Casa da Música do Porto, Porto, 2014.

COSTA E SILVA, Catarina, Aprender a música dançando: o caso específico das Airs de mouvement no século XVIII, Revista Portuguesa de Educação Musical, nº 135, 2010.

DACAL CRESPO, Sara, A música impressa do fundo da Biblioteca Geral da universidade de Coimbra. Catalogação dos livros de partes do séc. XVI (dissertação de mestrado), Universidade de Coimbra, 2018.

Os livros de partes impressos entre 1544 e 1657 que hoje se conservam no fundo musical da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) constituem o objeto de estudo deste trabalho de investigação. Após uma breve contextualização da coleção musical e da proveniência dos livros de partes, procura-se dar uma perspetiva da atual organização desses livros, do número de edições e obras conservadas, do estado de conservação, do repertório e dos principais compositores e impressores representados. A recolha de toda esta informação culmina num catálogo detalhado dos livros de partes impressos no século XVI e na primeira metade do século XVII. O fundo musical da BGUC é composto por manuscritos e edições impressas. Entre os seus impressos, apresenta livros de coro, livros de música instrumental e numerosos livros de partes. Esta coleção de livros impressos de música polifónica dos séculos XVI e XVII é a maior do género existente em Portugal, com um total de sessenta e nove edições. Com o objetivo de contribuir para um conhecimento mais profundo do espólio musical da BGUC, o presente trabalho de investigação centra-se na elaboração de um catálogo detalhado, e posterior análise, dos conteúdos encontrados nas trinta e nove edições de polifonia impressas em livros de partes presentes no fundo musical da BGUC. Este trabalho vem para colmatar os trabalhos anteriores ao fornecer informações exatas e detalhadas através da produção de uma ferramenta que possa vir a contribuir para diferentes projetos futuros de estudo, investigação e execução desse repertório musical.

CRUVINEL, Thiago Vaz, O mito de Orfeo e a ópera no século XVII: um estudo sobre o surgimento da ópera em Itália (dissertação de mestrado), ESMAE, P.Porto, 2016.

Durante o século XVII, em Itália, uma série de óperas foram escritas retratando o drama mitológico de Orfeu e Eurídice. O presente trabalho é uma investigação sobre a presença recorrente do mito de Orfeu nos libretos de ópera, especialmente durante as primeiras décadas do século XVII, e sobre a importância dessa história específica para o surgimento e consolidação da ópera como gênero. Essa dissertação divide-se em três grandes capítulos: 1. estudo do contexto histórico, social, político e artístico que culminou na criação da ópera; 2. análise de obras importantes para a história da ópera e que apresentam temática sobre o mito de Orfeu; 3. discussão sobre as questões interpretativas inerentes à preparação e execução de um recital com repertório sobre o tema selecionado.

FERNANDES, Cristina; ORTEGA, Judith (eds.), Música en las cortes ibéricas (siglos XVIII-XIX): Ceremonial, artes del espectáculo y representación del poder. Madrid: SEdeM – Sociedad Española de Musicologia (no prelo).

FERNANDES, Cristina, A recuperação de óperas setecentistas portuguesas através da crítica: aspectos históricos, interpretativos e ideológicos, Anais do V Simpósio Internacional Música e Crítica (Universidade Federal de Pelotas – Brasil), vol. 5, 2022.

FERNANDES, Cristina, Bailes, Danças e Contradanças nas narrativas dos rituais públicos: persistências e mudanças nas representações musicais e coreográficas ao longo do século XVIII, Conferência Internacional Rituais Públicos e Alteridade no Império Português (1450-1822), org. Projecto RITUALS. Biblioteca Nacional de Portugal, 26-27 Setembro, 2022.

Além de serem portadoras de discursos representativos de alteridades étnicas, religiosas, sociais, políticas e culturais, as narrativas dos rituais públicos do império português espelham também persistências e mudanças no domínio das artes performativas. No que diz respeito às danças e “bailes” presentes em cortejos, procissões e outras manifestações festivas, e às músicas que lhe serviam de suporte, são inúmeras as questões que carecem de investigação mais aprofundada. Que repertórios e fórmulas coreográficas eram partilhados por diferentes cidades e territórios e de que forma se foram transformando ao longo do tempo ou em função de outros contextos culturais? Em que medida o carácter exótico e as referências a diferentes etnias na indumentária, nas temáticas e nos gestos tinham um equivalente ao nível sonoro? O que distinguia as “mouriscas” dançadas no império português de práticas afins noutros países europeus? Ou uma “dança dos pretos” executada no Rio de Janeiro, em Lisboa ou em Braga? Que afinidades teriam as contradanças e minuetes mencionadas a propósito de rituais públicos no Brasil com as praticadas nos salões e assembleias de Lisboa?

Circunscrita ao século XVIII e ao espaço luso-brasileiro, esta comunicação procura reflectir sobre estas e outras questões e identificar mudanças que por vezes se escondem atrás dos discursos retóricos e convenções de linguagem das relações festivas. Pretende também demonstrar que o uso de terminologia semelhante, tanto na designação de tipologias de danças, como dos “bailes” (géneros músico-teatrais com personagens específicas e um breve argumento), ou mesmo dos instrumentos musicais, em épocas e lugares distintos, ofusca frequentemente realidades sonoras e coreográficas diferentes. Apesar da escassez de partituras e de descrições detalhadas de danças ligadas a eventos concretos, as relações das festas fornecem indícios que podem ser cruzados com outras fontes e permitem levantar novas hipóteses.

FERNANDES, Cristina; YORDANOVA, Iskrena (eds.),“Padron mio colendissimo”: Letters About Music and the Stage in the 18th Century. Viena: Hollitzer Verlag (Cadernos de Queluz IV), 2021.

FERNANDES, Cristina, Eventi-spettacoli nella cerchia di André de Melo e Castro, ambasciatore portoghese a Roma (1718-1728): aspetti materiali, sociali e politici della performance, in Spectacles et performances artistiques à Rome (1644-1740). Une analyse historique à partir des archives familiales, ed. Goulet, Anne-Madeleine; Domínguez, José María; Oriol, Élodie. Roma: École Française de Rome, 2021, pp. 353-375.

FERNANDES, Cristina, Tra cappelle, palazzi e teatri: i percorsi professionali dei cantanti italiani al servizio di Giovanni V e di Maria Anna d’Asburgo, in Filippo Juvarra, Domenico Scarlatti e il ruolo delle donne nella promozione dell’opera in Portogallo, ed. Raggi, Giuseppina; Carneiro, Luís Soares. Roma: Artemide, 2021, pp. 157-180.

FERNANDES, Cristina; DIEZ DEL CORRAL, Pilar, Del Tajo al Tíber: La formación de músicos y artistas portugueses en Roma durante el reinado de Juan V (1707-1750), Revista de Historia Moderna, 38 (2020), pp. 326-359.

FERNANDES, Cristina, Da corte para as assembleias e academias de Lisboa e Madrid: a dança como afirmação social e como actividade lúdica. Seminário Internacional Música nas Cortes Ibéricas (séculos XVIII-XIX): artes do espectáculo e representação de poder (coord. Cristina Fernandes e Judith Ortega). Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda, 12 e 13 de Dezembro, 2019.

FERNANDES, Cristina, Michel’angelo Lambertini y la novedad de los conciertos históricos con instrumentos antiguos en Lisboa (1906): Arqueologia musical y cosmopolitismo. Revista de Musicologia 42-1 (2019), pp. 153-182.

FERNANDES, Cristina, Maria Bárbara de Bragança’s music library and the circulation of musical repertories in 18th century Europe, in Le stagioni di Jommelli, edited by Biggi, Maria Ida; Coticelli, Francesco; Maione, Paologiovanni; Yordanova, Iskrena. Nápoles: Edizioni Turchini, 2018, pp. 901-929.

FERNANDES, Cristina, María Bárbara de Braganza y la cultura musical europea del siglo XVIII, in dossier Música de corte en feminino (coord. Judith Ortega), Scherzo (2018), pp. 77-81.

FERNANDES, Cristina (coord.), Dossier temático Música e poder real em Portugal no século XVIII: repertórios, práticas interpretativas e transferências culturais, Revista Portuguesa de Musicologia – nova série n. 5, 1-2 (2018).

FERNANDES, Cristina, Cartas de jogar, tocar e dançar: o baralho musical de José do Espírito Santo Oliveira (1755-1819) no contexto das assembleias lisboetas nos finais do Antigo Regime, in Jogos em Perspectiva: de Lisboa a Macau, 7-19. Lisboa: Apenas Livros | Ludus, 2015, pp. 7-19.

FERNANDES, Cristina, Da cultura de corte aos desafios da esfera pública: instrumentistas e repertórios instrumentais em trânsito entre a Real Câmara e os concertos públicos (1755-1807), in Música instrumental no período final do Antigo Regime: contextos, circulação e reportórios, ed. Fernandes, Cristina; Vanda de Sá. Lisboa: Colibri, 2014, pp. 77-106.

FERNANDES, Cristina, Boa voz de tiple, sciencia de música e prendas de acompanhamento. O Real Seminário da Patriarcal (1713-1834). Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal / INET-md, 2013.

Outros

Lisboa e a Corte nos séculos XVII e XVIII: Perspectivas de uma reconfiguração (Mesa redonda), A. Canaveira de Campos, A. Neto, H. Neto, S. Ceia, A. Camões Gouveia. ¿Decadencia o reconfiguración? Las monarquias de España y Portugal en el cambio de siglo (1640-1724), eds. J. Martínez Millán, F. Labrador Arroyo, F. Paula-Soares, Madrid: Ediciones Polifemo, 2017, pp. 397-422. ISBN: 978-84-16335-34-3.